domingo, 13 de junho de 2010

Sem sexo e sem cidade



O cenário não é mais a Nova York do século XXI. Em cena, nem de longe percebemos as quatro mulheres pós-feministas, com seus direitos “igualados” aos dos homens, compartilhando o mesmo espaço profissional que eles e desfrutando da sua sexualidade sem nenhum pudor. Pode não parecer, mas estamos falando de Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha, personagens de Sex And The City.

A volta dessas quatro mulheres nas telas do cinema produz um ar de frustração e saudosismo em quem encontrou alguns méritos na série homônima da HBO. Limitadas a conflitos banais, o novo filme Sex And The City traz personagens infantis e caricatas que renegam todas as práticas políticas do feminismo e reduzem a liberdade e a conquista do “eu” feminino a um amontoado de inutilidades.

Na trama, Carrie vive a crise de seus dois anos de casamento. Samantha passa por uma grave crise financeira; Charlotte evidencia as dificuldades advindas com a maternidade. São esses os fios condutores que levam as quatro amigas a se reunirem novamente, desta vez rumo a um mundo bem diferente da cosmopolita Nova York.



Estereotipadas, Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha continuam representando aquilo que, no senso comum, seriam significações atribuídas ao universo feminino: consumismo, beleza, romance, sexo, maternidade. Baseado neste pensamento hegemônico de “ser mulher”, as amigas, que na Big Apple se mostravam libertárias e inspiradoras, se tornam inconvenientes e impertinentes nas quentes areias dos Emirados Árabes.

A busca pelo prazer feminino, que nos episódios da série se faz como uma espécie de resistência ao poder masculino, é apresentado desta vez com grosseria e desrespeito pela cultura e costumes alheios. Insaciável como sempre, Samantha perde a pertinência e comicidade de outrora, e traz um “quê” de vergonha às amigas – e às espectadoras, por extensão – sendo humilhada no mercado de Abu Dhabi.

Outra representação identitária que certamente incomodou a muitos espectadores aparece logo no início do filme, em uma espécie de tributo ao público gay. Na cena, homens “desmunhecados” representam o casamento homossexual, desconsiderando o gênero e suas variedades de formas de interpretação, simbolização e organização das diferenças sexuais nas relações sociais (NATANSOHN, 2003).

Saldo positivo para Charlotte, que volta à maturidade do roteiro original ao trazer para o público uma conversa madura com Miranda sobre as dificuldades da maternidade e sua dedicação à família. Bons minutos do longa, interrompidos por sra. Bradshaw e seu dilema de trair ou não Mr. Big com o saudoso Aidan – personagem interessante dos tempos áureos da série.

Para Gramsci, autor recorrente aos Estudos Culturais, o conceito de hegemonia é concebido enquanto direção e domínio. Ela atua como conquista, através da persuasão e do consenso, não apenas no âmbito econômico e político da sociedade, mas também sobre o modo de pensar, sobre as orientações ideológicas e inclusive sobre o modo de conhecer. É claro que pensar hegemonia é ressaltar que ela está sempre como fonte de disputa, num misto de resistência e cooptação dos atores sociais.

Deste modo, falamos em hegemonia como um conceito que ultrapassa as ideologias e as formas de cultura na análise do filme Sex and The City 2, ao verificar como ela opera na construção das personagens e no engendramento da trama. Segundo a narrativa do filme, o “happy end” de Carrie só é concretizado quando finalmente há a reconciliação com Mr. Big, que, vale dizer, precisa ter uma cena tão grandiosa quanto os contos de fada.



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