Antes de qualquer dado numérico ou de demarcações territoriais, é necessário definir MGF, um ritual que tem como expressão popular “circuncisão feminina”, e possui como nome mais apropriado Mutilação Genital Feminina (MGF) ou excisão. Existem basicamente três tipos:
Clitoridectomia ou sunna: consiste na remoção do prepúcio do clitóris ou mesmo na remoção completa do clitóris, é a forma mais “suave” de circuncisão;
Excisão: além de remover o prepúcio, extrai também o clitóris, os lábios menores, permitindo que os lábios maiores fiquem intactos e
Circuncisão faraônica ou Infibulação: consiste na remoção do prepúcio, do clitóris, dos lábios menores e maiores, e na sutura dos dois lados da vulva, deixando uma pequena abertura para a passagem da urina e do sangue menstrual.
Tornou-se muito comum nos diversos meios de comunicação atrelar a prática da MGF à cultura islâmica, porém há mulheres mutiladas entre cristãos, hindus e outras seitas, mas devido à grande difusão desta prática no islamismo, eles acabam por serem confundidos como genitores. Com isso, acredita-se que a origem da circuncisão não está no campo religioso, ao contrário do que muitos pensam, a religião neste caso, torna-se apenas um argumento mais poderoso para a prática e a aceitação, sem questionamentos. Pois, em alguns escritos sagrados, devido às diversas interpretações encontram-se referências para a prática da excisão.
Mais de 150 milhões de mulheres e meninas foram submetidas à mutilação genital feminina em todo o mundo. Segundo a UNICEF, cerca de três milhões de meninas se tornam vítimas dessa prática a cada ano. As justificativas para que esse procedimento seja conservado variam, além da típica intenção de manter a tradição religiosa ou de grupos étnicos, destacam-se também:
. motivos de higiene;
. questões estéticas, em relação a genitália feminina;
.pré-requisito para o matrimônio, pois homem algum aceitaria uma mulher não circuncisada;
.aumento do prazer sexual masculino;
. torna a mulher mais dócil, com a redução do seu desejo sexual, evitando uma possível relação extra-conjugal;
.ajuda na saúde da mulher, garantindo a sua fertilidade e o provimento de filhos sadios.
No entanto, dentre todas estas justificativas de ordem “higiênicas”, culturais, morais e com explicações de ordem médica, a principal função do ritual da MGF a que algumas mulheres são submetidas é o controle sobre a sua sexualidade e o corpo das mesmas (DINIZ, 1999). A permanência da circuncisão, só faz acrescentar um ponto a mais na enorme lista de fatores que, culmina na tradicional questão da submissão das mulheres durante o processo histórico. Claro, que tal visão possui um teor etnocêntrico, ocidentalizado e até com imposição de valores, porém até que ponto devemos ser tolerantes, perante a cultura do outro?
O continente Africano, é o recordista quanto ao número de mulheres circuncisadas, são 28 os países que mantêm essa prática, sem contar com alguns países asiáticos. O que mais intriga quanto à questão da excisão, é o fato de que os efeitos intencionados por ela não são alcançados, logo as justificativas dadas para a permanência dessa prática são infundadas. Não há, aqui, uma apologia a condenação das práticas culturais “sem fundamento” (de acordo com os méritos sociais), muito menos o seguimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos determinada pela ONU, mas uma apologia a saúde física principalmente, não desprezando a psicológica, porém esta fica num âmbito mais complexo.
Os problemas físicos – desenvolvimento de quadros de infecção sério após a cirurgia, além de carregarem importantes danos para a saúde reprodutiva por toda a vida, muitas das mulheres acabam morrendo (DINIZ, 1999) – estão relacionados diretamente a maneira como é feito o procedimento da mutilação: sem anestesia, sem higiene, uso de objetos não esterilizados e, muitas vezes, enferrujados e inapropriados.
Há muitas campanhas de instituições que tentam informar os perigos dessa prática, porém deve-se dá mais importância política para tal procedimento, pois a quantidade de mulheres circuncisadas é gigantesca. Sabe-se que a mudança de práticas culturais de muito tempo é extremamente difícil, por isso atitudes de conscientização, sejam governamentais ou não, devem ser tomadas o quanto antes.
Clip de um nativo da Costa do Marfim, Tiken Jah Fakoly, com sua música contra a excisão feminina, muito presente também no seu país.
Links e Fontes:
http://www.anis.org.br/serie/artigos/sa11(diniz)mutilacao.pdf
http://islamicchat.org/fgm.html
http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos//Pagu/2008(30)/Venchi.pdf
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