quarta-feira, 26 de maio de 2010

As mulheres vão à caça




De todos os ambientes de luta política, o que atinge a sexualidade é um dos mais visitados na história. Como falar na revolução social que movimentou o planeta nos bem cantados anos 60 sem falar da revolução sexual? O sexo sempre esteve presente no cotidiano de todas as civilizações, das discussões acadêmicas às mesas de bar. Dos bordéis às igrejas. O que chama atenção é que, ainda em voz quase inaudível, preso nos tabus que a mudança dos tempos não abandona, a sexualidade continua sendo mostrada pela ótica do homem heterossexual.
Sob a mulher que recaem dogmas de virgindade como pureza, como nobreza de caráter e de elevação do espírito. E não é incomum nos depararmos com situações banais de reafirmação destes dogmas.O orgasmo feminino é um dos grandes tabus. Como esquecer o episódio da novela “Páginas da Vida” em que uma mulher de 68 anos dava o depoimento demonstrando intensa alegria por ter tido o primeiro orgasmo da vida aos 45 anos, ao se masturbar ouvindo a música “Côncavo e Convexo”? Em que outra situação o depoimento causaria tamanho rebuliço nestas mesmas mesas de bar? (ver matéria do Observatório da Imprensa).
A escritora Regina Navarro Lins reconhece, em sua coluna na Rádio Metrópole, que a repressão feminina independe de classe social, de nível de informação ou de orientação sexual (ouvir podcast), e é uma defensora de outras alternativas contras as ideias compulsórias de maternidade, monogamia e heterossexualidade. Mas, infelizmente, ainda não é a regra na fervura de posicionamentos supostamente científicos que vivem para reafirmar o senso comum de mulher menos ligada ao sexo, ou até assexuada. É o caso da pesquisa publicada pelo site brasileiro da GNT. O título da matéria já resume a ópera: “Mulheres podem ficar sem sexo o tempo que quiserem”.

Cougar Time


Neste mês, o site do The New York Times publicou uma denúncia contra o Google pelo o que considerou preconceito de gênero. Segundo o veículo, o grupo mostrou desprezo pelo fenômeno conhecido nos EUA como cougar. As cougars (na tradução literal “pumas”) são mulheres bem-sucedidas profissionalmente, com boa condição financeira, geralmente solteiras ou divorciadas, e que se sentem atraídas por homens muito mais novos: os cubs.

Milhares de sites são criados para atender a esse mercado e disponibilizam até cartilhas virtuais, que vão desde “como tratar seu cub” a “como se vestir à moda cougar”:






A febre atingiu diferentes mídias, inclusive a televisão, como por exemplo a série norte-americana produzida pela ABC, “Cougar Town”, estrelada pela atriz Courtney Fox (veja o teaser):






Outra série de alcance mundial é “Sex and the city”, tendo Samantha como a definição quase literal da cougar norte-americana, fascinada por corpos masculinos bem definidos e absolutamente jovens. O alcance pop vem também das estrelas que desfilam pelos tapetes vermelhos Hollywoodianos com seus garotões ao lado: encabeçando a lista vêm Madonna e o modelo brasileiro Jesus Luz; e Demi Moore e o ator Ashton Kutcher. Algo não muito distante do Brasil, afinal até na atual novela das oito, Passione, há uma cougar muito bem representada pela atriz Maitê Proença.

Este panorama dá uma sensação de que as mulheres estão realmente invertendo o quadro histórico de repressão sexual a que sempre foram submetidas (mas não sem luta). Contudo, segundo o The New York Times, o próprio Google classificou o termo “cougar” como impróprio para menores e retirou muitos anúncios das interessadas neste filão dos sites de relacionamento (veja matéria completa). O mesmo não acontece com o fenômeno oposto, dos homens mais velhos e bem-sucedidos que se interessam pelas ninfetas (os “sugar dadies” e as “sugar babies”). Ainda é muito mais comum encontrar anúncios para os papais do que para as mamães.
Vale comentar que algumas feministas reprovam o termo “cougar” por, supostamente, cair em um “machismo às avessas”. Enquanto isso, as mamães deixam os papais em casa e saem para fazer sua revolução, ou simplesmente, irem à caça.

Conheça mais o trabalho da sexóloga Regina Navarro Lins:
Veja entrevista concedida à Rádio Metrópole

Há Feminismo no seriado "Charlie’s Angels"?

Os fãs de séries antigas, certamente, concordarão que “Charlie’s Angels” – década de 70 - (“As Panteras”, no Brasil) foi um dos primeiros seriados em que as mulheres apareciam em um lugar de fala um pouco distinto do que se costumava ver na produção de ficção televisiva da época. A série foi exibida em cinco temporadas (1976 – 1981) pela rede de televisão americana ABC. Em um rápido resumo, pode-se contar a trama do seriado: três jovens mulheres, recém-formadas na Academia de Polícia, são convocadas por um homem misterioso (e que não aparece durante toda a narrativa, apenas no último episódio) chamado: Charlie. A partir disso, essas três mulheres começam a trabalhar em casos secretos da “Agência de Detetives Charles Townsend” e se tornam ‘os anjos DE Charlie’ nos EUA.

A abertura da primeira, e mais bem sucedidade, temporada do seriado com as atrizes Jaclyn Smith, Kate Jackson e Farrah Fawcett-Majors:


Alguns dirão que aquele era um importante momento porque as mulheres estavam chegando a um território essencialmente masculino, já que se tornavam protagonistas de uma série policial. As atrizes interpretavam detetives, uma função até então, tradicionalmente, executada por homens. Uma verdade. Entretanto, os episódios em praias ou piscinas eram corriqueiros, em que os anjos apareciam somente de biquíni e com os seus belos corpos à mostra. Os seus disfarces estavam ligados, habitualmente, à sexualidade: showgirls, prostitutas, etc. “As panteras" de Charlie agradavam o público e eram heroínas inteligentes, bonitas, cheias de sensualidade e poderosas. A sua maior arma, na maioria das vezes, era a atração feminina e uma falsa vulnerabilidade para atrair e capturar criminosos do sexo oposto.


O site "Charlie's Angels Forever" , no texto os “Angels as feminist heroes”, deixa claro que acredita no feminismo na série. Entretanto, o autor do texto diz em certo momento: In the beginning, CHARLIE'S ANGELS did use high levels of sexuality to gain viewers. It was a gimmick and it worked”, e aí, então, se contradiz. No primeiros episódios, ficava claro a consonância do seriado com o padrão da posição feminina da época. Então, para aumentar a audiência era preciso altos níveis de sexualidade? Uma audiência composta, provavelmente, por homens na sua maioria.

Ao falar da exposição feminina, a colocação de Graciela Natanshon parece muito pertinente: “as mulheres observadas nos meios de comunicação, na tevê, no cinema, nas revistas, pelas primeiras feministas que repararam no poder cultural e ideológico da mídia não eram aquelas que o feminismo reivindicava. Não eram sujeito, mas objeto do olhar e do desejo masculino.” (In: NATANSOHN, L.G. Os Estudos Culturais e o feminismo. Consultando médicos na TV: mulheres, medicina e meios de comunicação. Tese de doutoramento. PPGCCC, UFBA, 2003).

Muitos críticos da época, incluindo muitas feministas, diziam que o show era uma produção machista que explorava sexualmente suas personagens. Uma jornalista feminista da revista Time, Judith Coburn, dizia: "CHARLIE'S ANGELS is one of the most misogynist shows the networks have produced recently. Supposedly about 'strong' women, it perpetuates the myth most damaging to women's struggle to gain professional equality, that women always use sex to get when they want, even on the job"! Algumas consideravam Charlie Towsend a voz da patriarcalismo: o anjos faziam aquilo que ele lhes ordenava.

Leia mais sobre “Charlie’s Angels” aqui.

Obs: A rede de televisão americana ABC autorizou a roteirização de um remake do seriado com previsão de estreia para os primeiros meses de 2011.

Postagem feita por Luis Fernando Lisboa.

285O Feminismo das Grrrls!


Riot Grrrls foi um movimento feminista criado no final dos anos 80, em que abrange fanzines (revistas simples, geralmente feitas artesanalmente), festivais de música, onde também era possível passar documentários sobre o tema, e bandas de punk rock/grounge que participavam do movimento. Como feminista, não era contra os homens, que muitas vezes também participavam do movimento.


O nome ‘Riot Grrrl’ surgiu quando Alison Wolfe, líder da banda feminista Bratmobile, criou um fanzine onde criticava o machismo dentro do rock que vinha se mantendo ao longo dos anos (e que, de maneira menor, ainda se mantém atualmente). As meninas eram obrigadas a ouvir nos shows frases como: “Meninas não sabem tocar bateria, vão bater panela”, ou até aquelas que se “confundem” com elogio: “Nossa, você toca como homem” ou “Pra uma mulher, até que você toca bem”. E foi através da grande circulação e aceitação das idéias de Alison, também do jeito jovem de fazer as coisas, onde chamava atenção das garotas adolescentes e com mais disposição, que as meninas resolveram tomar à frente dos seus instrumentos, quebrando paradigmas, como terem que ser bonitinhas e arrumadinhas. As meninas muitas vezes em sinal de protesto raspavam seu cabelo e usavam roupas masculinas. Movimento Riot Grrrl ensinava as meninas que elas não são mudas, não podem ficar caladas, que devem espalhar suas idéias, que são importantes e devem reclamar pelos seus diretos.


Nos shows do Bikini Kill, as meninas costumavam dar atenção especial as garotas, fazendo com que elas prestassem mais atenção às idéias, do que as músicas, que muitas vezes não dava pra entender, por causa do som alto, e por isso, as meninas da banda chamavam as garotas para os lugares à frente do palco, deixando os meninos no fundo, e distribuíam folhetos com as letras das músicas, para que houvesse melhor o entendimento das idéias, a forma mais clara e evidente de protesto do movimento, com letras extremamente contestadoras e a postura firme, fazendo com que as Riots ganhassem realmente espaço e respeito, deixando bem claro que o tão conhecido lema punk "do-it-your-self" (você pode fazer isso) era seu também seu principal lema. Além disso, Kathleen Hanna costumava fazer seus shows com palavras como “Rape” (estupro) ou “Slut” (vagabunda) escrita em partes do corpo.


No movimento Riot, seguindo idéias do movimento punk, no qual está inclusa, não existia liderança, por questão de autonomia e liberdade de cada garota, porém, evidentemente, algumas mulheres tiveram destaque, por suas idéias, e pelo poder de conseguir transmiti-las. É o caso de Kathleen Hanna, líder da banda Bikini Kill (considerada a maior e mais influente banda do movimento) e Patti Smith.


Links:


- Matéria

Matéria no Ladyfest de 2007, maior festival feminista do Brasil (acontece em SP). Onde mostra bem as idéias do movimento Riot Grrrl.


Parte 1:

http://www.youtube.com/watch?v=v9xpXdrqUXw

Parte 2:

http://www.youtube.com/watch?v=hCl3VP7jRCg


- Música


Bikini Kill – Rebel Girl

http://www.youtube.com/watch?v=mZxxhxjgnC0

Letra:

http://vagalume.uol.com.br/bikini-kill/rebel-girl.html

Tradução:

http://vagalume.uol.com.br/bikini-kill/rebel-girl-(traducao).html

Bikini Kill – Don’t Need You (ao vivo)

http://www.youtube.com/watch?v=f9UV7Z4lSkI&feature=related

Letra e tradução:

http://vagalume.uol.com.br/bikini-kill/dont-need-you-(traducao).html

Bikini Kill – Suck My Left One

http://www.youtube.com/watch?v=vjS0R5BmYtg&feature=related

Letra:

http://vagalume.uol.com.br/bikini-kill/suck-my-left-one.html

Tradução:

http://vagalume.uol.com.br/bikini-kill/suck-my-left-one-traducao.html

Maior banda Riot brasileira:

Dominatrix – Patriarchal Laws (ao vivo)

http://www.youtube.com/watch?v=QWDbhdDBVV0

Letra:

http://vagalume.uol.com.br/dominatrix/patriarchal-laws.html

Tradução:

http://vagalume.uol.com.br/dominatrix/patriarchal-laws-(traducao).html

Dominatrix – Homophobia is on tray

http://www.youtube.com/watch?v=1D5jQN1V09Q

Letra:

http://vagalume.uol.com.br/dominatrix/homophobia-on-a-tray.html

Tradução:

http://vagalume.uol.com.br/dominatrix/homophobia-on-a-tray-traducao.html


- Sites:


Sóror Hardcore (brasileiro):

http://www.sororhardcore.blogspot.com/

Festival Ladyfest:

http://ladyfest.org/

Grrrls Zine Network

http://grrrlzines.net/


Postagem feita por Ana Paula de Sousa Pereira


segunda-feira, 24 de maio de 2010


Coletivos são, de forma geral, a união de pessoas por algum motivo em comum. Podemos dividi-los em culturais (ou artísticos), ativistas ou híbridos como fala Ricardo Rosa no forumpermanente (dentro do portal da fapesp) . Eles (os coletivos) nascem por ai, sem precisar necessariamente de embasamento teórico ou "registro em cartório" e tem como características principais a economia solidária, autogestão, gestão horizontal, caráter crítico, urbano e predisposição à colaboração. Segundo Ricardo Rosa "[...] vários coletivos brasileiros contemporâneos surgem da ativa cena de intervenção urbana espalhada por todo o país. Herdeira em parte da arte da performance, do happening e da body art, e compartilhando um certo culto por ícones da arte brasileira dos anos 1960-70 [...], trocava informações e se organizava via Internet, por contato de e-mail, e em espaços e festivais como o Prêmio ‘Interferências Urbanas’, no Rio de Janeiro, e os encontros ‘Perdidos no Espaço’, em Porto Alegre."

Existem vários "tipos" de coletivos feministas ou outros que não são necessariamente ligados a lutas clássicas do movimento feminista , mas que discutem questões ligadas ao gênero feminino.

Existem coletivos feministas que são grupos dentro de outros movimentos. O coletivo feminista ligado ao DCE ( diretório central dos estudantes) da Universidade Federal da Bahia e o coletivo mulheres da UFRGS nascem no meio político-acadêmico. Há também coletivos ligados a partidos políticos como o Coletivo Rosa Luxemburgo que foca suas ações em defesa das mulheres, mas voltando sua atenção primariamente às mulheres operárias e o coletivo Ana Montenegro ligado ao Partido Comunista que prega a ação feminista-socialista.

No cenário baiano podemos destacar o coletivo Maria Quitéria, que atua em Jequié, promovendo debates e palestras, demonstrando que as mulheres também buscam seu espaço fora das grandes capitais e coletivo Marias que trabalha em Salvador também promovendo debates e ações pra dar voz as causas feministas.







Podemos destacar o coletivo GAFeminista de Florianópolis, cidade com tradição nas lutas feministas . O coletivo é formado por homens e mulheres com vontade de discutir questões de gênero em geral. Aqui estão algumas vinhetas do GAFe:



O coletivo feminista sexualidade e saúde tem uma longa história de "crítica ao modelo médico clássico da gineco-obstetrícia" , ele busca uma humanização do parto e dos tratamentos à mulher em geral. Na luta desde 1985 o coletivo tem produção de cartilhas, teses, dissertações, artigos, material didático e até um livro, o "SAÚDE DAS MULHERES: EXPERIÊNCIA E PRÁTICA DO COLETIVO FEMINSTA SEXUALIDADE E SAÚDE". Com mais de 6.000 usuárias o coletivo continua "propondo uma ‘medicina suave’ – dos tratamentos naturais e menos agressivos – e de preocupação com o conhecimento do corpo como um dos elementos centrais para a saúde."

Os coletivos servem também para integrar mulheres de muitos lugares e vertentes ideológicas distintas, por exemplo, quando se relacionam por uma causa comum como foi ocaso de repúdio ao texto "Carta aberta a Luiza " de Henrique Goldman , o que acarretou no documento "POR UMA MÍDIA RESPONSÁVEL E NÃO-DISCRIMINATÓRIA CARTA ABERTA AO COLUNISTA HENRIQUE GOLDMAN E À REVISTA TRIP" assinado por 169 grupos ( como coletivos, partidos e associações), além de 649 cidadãos individualmente que exigem uma retratação pública de autor e empresa por banalizar o crime de estupro.

A ação conjunta dos coletivos pode ser também feita em manifestações como a do dia 8 de março do ano corrente em que as mulheres foram às ruas de SP lutar por "Bandeiras históricas como a socialização do trabalho doméstico, salário igual para trabalho igual, o combate à violência, a reivindicação de creches para todas as crianças e o direito ao aborto [...]" O evento uniu dezenas de grupos feministas.

A partir de tantos coletivos e ações fica evidente que existem pessoas mobilizadas pra lutar pelos seus direitos, mais precisamente o direito das mulheres. É preciso agir contra uma sociedade cheia de discriminações, inclusive sexista, então, leitoras e leitores é só se engajar na busca de justiça!