domingo, 22 de agosto de 2010

Vídeo sobre aborto

http://www.metacafe.com/watch/2900165/george_carlin_sobre_el_aborto_subtitulado/

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

AS ELIZAS DO BRASIL E SUAS MORTES ANUNCIADAS

Por Cecilia Sardenberg,professora do Neim-UFBA e coordenadora nacional do OBSERVE - Observatório de Monitoramento da aplicação da Lei Maria da Penha.


Neste mês de agosto, quando se comemora o quarto aniversário da promulgação da Lei 11.340/2006 - denominada Lei Maria da Penha em homenagem a Professora Maria da Penha, uma vítima da violência doméstica que denunciou o Brasil por negligência às cortes internacionais - vários casos de mulheres brutalmente assassinadas por seus companheiros ocupam as principais manchetes dos jornais do país e da nossa mídia televisiva, demonstrando a relevância e pertinência dessa nova legislação.

Dentre esses casos, tem chamado atenção especial o da jovem Eliza Samúdio. Além do suposto mandante do crime ser um jogador de futebol de certa projeção, a forma em que a jovem foi assassinada e o corpo “desovado” vem chocando a opinião pública. Seu corpo ainda não foi encontrado, mas depoimentos colhidos pela polícia indicam que Eliza foi esquartejada, seus restos mortais jogados a cachorros e os ossos posteriormente cimentados.

Sem dúvida, esse nível de brutalidade é de causar arrepios, principalmente quando se constata que atinge várias outras mulheres, sem que suas histórias ganhem espaço na mídia por não envolverem gente dita “famosa”. O que já nos revela o quanto a violência contra as mulheres no Brasil ainda é banalizada. Além disso, no caso de Eliza, como vem acontecendo também com tantas outras vítimas, estamos diante de mais uma “morte anunciada”– isto é, de mais um caso de negligência por parte dos órgãos do Estado no enfrentamento à violência contra mulheres, mesmo quando as mulheres vitimadas buscam justiça. Senão vejamos:

De acordo com as investigações tornadas públicas, Eliza Samúdio viveu uma relação passageira com o goleiro Bruno do Clube de Regatas Flamengo, mas que resultou em uma gravidez por ele rejeitada. Pior que isso, em outubro de 2009, quando estava grávida de cinco meses, Eliza foi seqüestrada por ele e seus comparsas e mantida em cárcere privado, sendo agredida física e verbalmente, ameaçada de morte e forçada a uma tentativa de aborto, conforme queixa registrada pela vítima na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Nessa ocasião, a delegada de plantão, reconhecendo o risco que a jovem corria e a pertinência da Lei Maria da Penha ao caso, solicitou ao Judiciário a aplicação de uma medida protetiva contra o goleiro Bruno, que o proibiria de se aproximar de Eliza por menos de 300 metros . No entanto, a juíza responsável negou o pedido da DEAM, alegando a não existência de um relacionamento entre as partes envolvidas, e acusando a vítima de "tentar punir o agressor" (...) "sob pena de banalizar a finalidade da Lei Maria da Penha". Desconsiderando o fato de Eliza estar grávida de cinco meses do agressor, e desconhecendo que a Lei Maria da Penha foi criada para proteger as mulheres, essa juiza afirmou, equivocadamente, que a referida Lei "tem como meta a proteção da família, seja ela proveniente de união estável ou do casamento, bem como objetiva a proteção da mulher na relação afetiva, e não na relação puramente de caráter eventual e sexual".

Esse tipo de interpretação nos revela o quanto no pensar Judiciário – mesmo quando expresso por mulheres - permanece em pauta uma ideologia patriarcal, machista, que categoriza as mulheres como “santas” ou ”putas”, resguardando as primeiras na “família” e tratando as outras como casos de polícia que “banalizam” a Lei. Não é, pois, ao acaso que a cidadania feminina no Brasil ainda é uma cidadania pela metade, já que os direitos das mulheres continuam a ser subjugados aos da “família”, o que contribui para a reprodução das relações patriarcais entre nós e, assim, para o crescimento da violência contra mulheres.

Foi o que aconteceu com Eliza Samúdio. A interpretação da Lei a partir de um viés patriarcal, por parte da juíza fluminense, implicou no envio do processo em questão para uma vara criminal, trazendo consequências ainda mais desastrosas. Ali, por descaso da polícia, que deveria ter levado as investigações adiante com a necessária urgência, só recentemente houve algum avanço nesse sentido. Na verdade, só depois do desaparecimento de Eliza se tornar público e ganhar as manchetes, a polícia deu o devido andamento às investigações.



Em janeiro deste ano, em Belo Horizonte, outra jovem, a cabelereira Maria Islaine, também foi brutalmente assassinada pelo ex-marido, que disparou nove vezes contra ela, a despeito das várias queixas registradas na DEAM. Aliás, tem-se conta de que Maria Islaine fez oito registros de crime de ameaça, que resultaram em três prisões preventivas decretadas contra seu ex-marido, sem que nenhuma delas fosse cumprida. Por isso, apesar de medida protetiva ter sido expedida, ele continuou a procurá-la, ameaçando-a e agredindo-a em sua casa, uma situação registrada em ligações feitas por Maria Islaine para a polícia pedindo ajuda e socorro – mas tudo em vão. Num desses telefonemas, que foi gravado, a vítima reclama: “Tenho uma intimação que a juíza expediu por causa do meu marido, que me agrediu. Eu o levei na Lei Maria da Penha. Era para ele ser expulso de casa. O oficial veio, tirou de casa, só que ele está aqui e ainda está me ameaçando”. Em uma outra gravação, que foi anexada ao inquérito policial, o ex-marido ameaça: “Não vou aceitar perder minha casa. Se perder, você vai estar debaixo da terra. Está decidido isso. Já não vou trabalhar mais. Vou tocar uma vida de vagabundo. Se eu perder minha casa, vou te matar”. E cumpriu a ameaça, porque não foi preso como deveria ter sido.

Estudos e pesquisas sendo desenvolvidos pelo OBSERVE-Observató rio da Aplicação da Lei Maria da Penha, em quase todas as capitais do país, dão conta de que, apesar dos pactos selados com o Governo Federal, são muitas as instâncias semelhantes de descaso e mesmo negligência por parte dos estados da União no enfrentamento à violência contra mulheres. São juizados e varas de violência doméstica e familiar ainda por serem criados ou em funcionamento precário, DEAMs fisicamente mal equipadas e valendo-se de pessoal sem o treinamento e capacitação necessárias, e autoridades que interpretam e aplicam a lei a seu bel prazer, sem o devido preparo e esclarecimentos cabíveis em prol da proteção de mulheres em situação de violência, como no caso de Eliza.

Embora este ano celebramos quatro anos de Lei Maria da Penha, nosso levantamento revelou que algumas capitais pesquisadas – João Pessoa, Aracaju e Terezina no Nordeste, e Palmas, Boa Vista e Porto Velho na Região Norte, por exemplo – ainda não dispõem de nenhuma vara ou juizado especializado em violência doméstica e familiar contra mulheres, descumprindo assim o que rege a Lei. E em muitas das que já criaram esses juizados, não existem as equipes multidisciplinares para prestar o necessário apoio às mulheres, tampouco uma articulação eficaz com os demais órgãos que devem compor a rede de atendimento às mulheres em busca do acesso à justiça.

Esse descaso se verifica mesmo no tocante às delegacias especializadas – que constituem a mais antiga política pública de enfrentamento à violência contra as mulheres no país e que, figuram, ainda hoje, como principal referência para as mulheres em situação de violência. Embora a Lei Maria da Penha tenha trazido novas atribuições para essas delegacias – com destaque para a retomada do Inquérito Policial como procedimento e as medidas protetivas de urgência – ampliando sua competência e também as demandas que lhe são encaminhadas diariamente, não parece haver um empenho real por parte da maioria dos estados – apesar dos “pactos” - em criar condições para que as DEAMs cumpram seu papel.

A precariedade das delegacias contribui para que as delegadas titulares criem suas próprias normas, deliberando, por exemplo, pelo não atendimento de casos de violência de gênero contra mulheres que não se incluam na Lei Maria da Penha. Ou então, para que ofereçam resistência a sua implementação, procurando mediar entre vítimas e agressores e fazer uso das malfadadas “cestas básicas” como pena, tal qual se fazia quando a Lei 9.099/95 – responsável pela criação dos JECRIMs, Juizados Especiais Criminais, que banalizavam a violência contra mulheres ao extremo - permanecia em vigor. Identificamos, também, uma prática preocupante: a exigência de duas testemunhas que atestem a veracidade dos fatos relatados pela mulher. Sem a presença das testemunhas, o Boletim de Ocorrência não é registrado. E se exige o agendamento para compare cimento das vítimas e das pessoas para testemunharem a seu favor, o que incorre na desistência de algumas mulheres, por falta de testemunha. Afinal, casais não costumam levar “testemunhas” para o interior dos seus quartos e para o leito conjugal onde ocorrem, em grande medida, os atos de violência doméstica.

Malgrado essa situação, consultas realizadas nas principais cidades do país com mulheres que registraram queixas nas delegacias têm revelado que, em sua maioria, essas queixantes vêem as DEAMs como porta de entrada na sua busca por justiça e proteção frente às ameaças e maus tratos sofridos. Contrário ao que se propaga em relação às vítimas, são poucas as que buscam as delegacias apenas como “mediadoras” de conflitos entre casais. Como Eliza, também essas queixantes buscam medidas protetivas na aplicação da Lei e uma ação imediata como a situação demanda - mas não têm sido atendidas. Algumas têm sido até aconselhadas nas delegacias a voltarem dali a seis meses, quando se sabe que a queixa perde sua validade jurídica quando registrada fora desse prazo. Outras, como Maria Islaine, conseguem as medidas proteti vas e até mesmo a decretação da prisão dos agressores. Mas, lamentavelmente, por negligência das nossas autoridades, eles continuam à solta, colocando a vida das mulheres em sério risco. Como bem concluiu uma de nossas entrevistadas: “Por isso que muitas mulheres estão morrendo”.

Por certo, as muitas Elizas do nosso Brasil e suas mortes anunciadas, dia após dia, nas DEAMs e juizados de todo o país, demandam de todos e todas nós muito mais do que arrepios. É mais do que necessário e urgente que exijamos dos nossos governantes e legisladores – e dos candidatos e candidatas a esses postos – o compromisso com a implementação e cumprimento da Lei Maria da Penha nos moldes e normas previstas, denunciando no “Ligue 180” e nas respectivas corregedorias todas as instâncias contrárias. Quando a negligência persistir, sigamos o exemplo da Professora Maria da Penha, apelando para as cortes internacionais. Ademais, é imprescindível que nos organizemos para que se processe uma verdadeira reforma no Sistema Judiciário e nos órgãos de segurança pública – que deve começar com os cursos de Direito - de sorte a livrá-los, de vez, das ideologias patriarcais que acalentam a violência contra nós, mulheres, em nome da “família”.

Precisamos, sim, fazer valer nossa cidadania por inteiro o quanto antes: uma vida sem violência é um direito de todas nós, Elizas, Maria Islaines e Marias da Penha!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Direito das Mulheres: Brasil vai mal

Do site da ADITAL,Agência de Informação Frei Tito para América Latina (gentileza de Leticia Pereira):

Durante a XI Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal) em Brasília, informou-se sobre resultados de pesquisa de países que respeitam o ‘Consenso de Quito’, documento para adotar medidas de ação positiva para garantir a plena participação das mulheres nos cargos públicos e representação política, em formular programas integrais de educação pública não sexista, promover o respeito aos direitos humanos integrais das mulheres indocumentadas, esforçar-se para firmar, ratificar e difundir a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher e seu Protocolo Facultativo, entre outras decisões.

Equipe técnica analisou dados qualitativos e quantitativos cedidos pelos próprios países e dados oficiais do Observatório Regional de Paridade de Gênero da Cepal para detectar quais nações mais se aproximaram da execução dos seus compromissos.

Neste ranking, a Argentina ficou no topo, e foi nomeado o país latino-americano que mais respeita os direitos das mulheres. Costa Rica, Chile, Uruguai, Panamá e México também ficaram em posições elevadas por cumprirem parte das promessas. Já o Brasil ficou em penúltimo lugar por não haver avançado nas dimensões básicas fundamentais para a garantia do exercício dos direitos das mulheres. O país só ficou abaixo da Guatemala.


http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cat=8&cod=49481

sábado, 24 de julho de 2010

Homenagens da UFBA: e as mulheres?

Recentemente, o Reitor da UFBA, Naomar Monteiro, informou que o Conselho Universitàrio dessa instituiçao propus batizar as novas instalaçoes dos campi com nomes de figuras de recohecida trajetoria na ciência e arte. Eis a proposta:

a) PAF-I : Pavilhão de Aulas Reitor Felipe Serpa.

b) Reconfirmar a denominação de Pavilhão de Aulas Professor Alceu Hiltner ao atual PAF-II.

c) PAC: Pavilhão de Aulas Reitor Heonir Rocha.

d) PAF-III: Pavilhão de Aulas Glauber Rocha.

e) Pavilhao de Aulas de São Lázaro: Pavilhão de Aulas Professor Thales de Azevedo.

f) Nomear o antigo centro de convivência, hoje refuncionalizado para abrigar o restaurante universitário, como Restaurante Universitário Manoel José de Carvalho.

g) Reconfirmar a designação de Biblioteca Universitária de Ciências e Tecnologias Professor Omar Catunda.

h) Batizar a nova biblioteca de saúde como Biblioteca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho.

Com a sua frequente lucidez, a professora Estela Aquino manifestou sua perplexidade pela ausência de mulheres na homenagem, com esta carta, que circulou nas listas de debates e que transcrevo textualmente;

Prezado Reitor Naomar e demais integrantes desta lista:

Acabo de voltar da XI Conferencia Regional da Mulher Latino Americana e do Caribe, onde integrei a delegação brasileira como uma das
representantes da sociedade civil, e junto com mais de 700 pessoas de 33 países discutimos o tema "Que Estado, para que igualdade?".
No documento final - o Consenso de Brasília - foram acordados compromissos de todos os governos para a superação das desigualdades de gênero em nossa região (www.eclac.org).
Lá também celebramos a recente criação por parte da Assembléia Geral das Nações Unidas de uma nova entidade para a igualdade de gênero e delegação de poderes às mulheres, chamada ONU Mulheres.
É portanto com desconforto e espanto que constato entre tantas homenagens, aprovadas pelo egrégio Conselho Universitário, não há sequer um nome de mulher.
Não há na história da UFBA mulheres que mereçam homenagens?
Espero ainda poder assistir o dia em que o culto à memória nesta instituição inclua homens e mulheres, que vêm construindo a UFBA e
levando ao mundo seu valor social e cultural, sem discriminação.

Estela Aquino
Coordenadora do MUSA
Instituto de Saúde Coletiva
MUSA-Programa em Gênero e Saúde

I SEMINÁRIO INTERNACIONAL: POLÌTICAS DE ENFRENTAMENTO Á VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES XVI SIMPÓSIO BAIANO DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER

Violência de Gênero: suas várias faces

08 a 11 de novembro de 2010
Salvador - Bahia



O Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) Sobre Mulher e Relações de Gênero é um evento que faz parte das atividade anuais do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM/UFBA – e este ano chega a sua décima sexta edição com o tema Violência de Gênero: suas várias faces. Este ano, junto ao simpósio, teremos também I Seminário Internacional: Políticas de Enfrentamento à Violência de Gênero Contra As Mulheres também realizado pelo NEIM, em parceria com OBSERVE-Observatório de Monitoramento da Aplicação da Lei Maria da Penha.


O objetivo dos encontros é debater as diferentes manifestações da violência de gênero, como também iniciativas e experiências voltadas para coibir a violência de gênero, abrangendo tanto o plano teórico como práticas desenvolvidas no âmbito acadêmico, das políticas públicas, seu monitoramento e nos demais processos educativos, organizacionais e políticos em curso na nossa sociedade. Buscamos dar visibilidade às diversas formas de agressão possíveis, não apenas os abusos físicos, mas também a violência moral e psicológica, os abusos patrimoniais, a violência ocorrida dentro das relações familiares ou institucionais.
Enquanto o simpósio será um espaço mais voltado para pesquisas e discussões acadêmicas, o seminário internacional focará em reflexões e construção de parcerias, nacionais e internacionais, voltadas para o monitoramento das políticas de enfrentamento à violência de gênero contra a mulher, contando inclusive com representantes de observatórios de violência existentes na Ásia, Europa e América Latina.

As propostas de trabalho deverão se voltar para o debate acerca das diferentes manifestações de violência de gênero contra as mulheres e iniciativas e experiências voltadas para coibir a violência de gênero, abrangendo tanto o plano teórico como práticas desenvolvidas no âmbito acadêmico, das políticas públicas, seu monitoramento e nos demais processos educativos, organizacionais e políticos em curso na nossa sociedade. Em especial, com o I Seminário Internacional: Políticas de Enfrentamento á Violência de Gênero contra as Mulheres, pretende-se abrir um espaço para reflexões e a construção de parcerias, nacionais e internacionais, voltadas para o monitoramento dessas políticas.

Inscrições de trabalhos até dia 15 de agosto.

Cartas de aceite enviadas até 03 de setembro.

Site do evento: www.simposioneim.ufba.br
Informações: neim@ufba.br

terça-feira, 13 de julho de 2010

Flor do Deserto


A maioria dos filmes biográficos - principalmente os norte-americanos - caracterizam-se por contar a história de uma pessoa que ou revolucionou o mundo de alguma forma, ou teve uma infância complicada, mas que, no futuro, conseguiu dar uma volta por cima, trazendo uma "lição de vida" para todos. Dentre os filmes desse gênero podemos citar: O Martírio de Joana D'Arc; Piaf - Um Hino ao Amor; Coco Antes de Chanel; Frida, entre outros.

No dia 25 de junho, estreou mais um filme biográfico nas telinhas do cinema. O longa chama-se Flor do Deserto, roteirizado e dirigido por Sherry Homan, e conta a história de Waris Dirie, uma modelo de fama internacional que nasceu e passou a infância no deserto da Somália. Baseado no best-seller homônimo escrito pela própria modelo, o filme, no geral, é muito interessante e surpreendente.

A história não é contada de forma linear. No começo do filme, temos um breve acesso à infância de Waris, em pleno deserto da Somália. Lá, nos é apresentada as condições de vida da protagonista e sua família: eram nômades, trabalhavam com o pastoreio, moravam em uma barraca sem nenhuma estrutura, a comida era escassa e tinha que ser dividida entre todos os irmãos. Logo depois, o cenário muda completamente e já estamos em Londres, cidade moderna e movimentada. Ainda não sabemos como Waris foi parar lá, mas é perceptível que ela não está adaptada ao local. Ela vive nas ruas, cata lixo para sobreviver e ainda não sabe falar inglês fluentemente.

Um dia, ao entrar em uma loja de conveniência, a protagonista acaba conhecendo Marylin, uma aspirante a dançarina que vive frustrada por não conseguir a aprovação de nenhuma escola de dança. Depois de insistir muito para passar uma noite com a moça e não dormir na rua, Waris consegue conquistar, aos poucos, a amizade de Marylin, que passa a incentivar a somali a mudar de vida. A partir disso, a vida de Waris começa a tomar outros rumos.

Cena do filme Flor do Deserto

Waris passa a trabalhar no McDonald's, local onde sua beleza é notada pela primeira vez pelo famoso fotógrafo Terry Donaldson, que propõe que a moça realize um ensaio fotográfico com ele. Depois de muito tempo, finalmente Waris decide aceitar o convite e, devido ao sucesso proporcionado pelas fotos, começaram a surgir várias oportunidades de trabalho como modelo fotográfica e, posteriormente, como modelo de passarela.

Com o passar do tempo, Waris fica conhecida mundialmente, tendo o seu rosto estampado em outdoors e capas de revistas de moda. O dia em que Terry Donaldson descobriu a modelo passou a ser conhecido como "o dia que mudou a vida de Waris Dirie". Porém, o mundo não sabia que, na verdade, o dia que mudou a vida da modelo aconteceu na Somália, quando ela tinha apenas cinco anos.

Waris sofreu uma mutilação genital feminina do tipo infibular, em que ocorre a remoção do clitóris, do prepúcio, dos lábios maiores e menores, deixando apenas uma pequena passagem da urina e do sangue menstrual. O ritual foi feito de forma inadequada, sem qualquer tipo de higiene, causando uma infecção na região vaginal que só cessou quando a modelo fez uma cirurgia depois de adulta.

Ao longo do filme, aparecem diversas cenas que provocam uma reflexão a respeito dessa prática. Uma delas é o diálogo que ocorre entre a modela e Marylin, sua amiga:

Waris

Uma mulher de respeito não faria isso.

Marylin

Uma mulher pode fazer o que quiser e ser respeitada.

Waris

As mulheres cortadas que são boas.

Marylin

Cortadas como?

(Waris levanta o vestido)

Marylin

Quem... quem fez isso com você?

Waris

Não fizeram isso com você? (chorando)

Na cena final do filme, Waris, que havia assumido publicamente um dos seus maiores segredos, realiza um discurso público em um encontro da ONU, onde critica essa prática e propõe uma discussão sobre "o que é ser mulher". Parte do discurso pode ser conferido abaixo:




Texto de Flávia Santana

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Lei de Bechdel

Alison Bechdel é uma cartunista americana, autora dos quadrinhos Dykes To Watch Out For, que começou no início dos anos 80 e representa uma das primeiras aparições importantes da cultura lésbica nas mídias massivas.

Em DTWOF, Bechdel escreve, num dos diálogos, o que vem a ser conhecido hoje como a Lei Bechdel. Nessa tirinha, uma das personagens descreve a “regra” que todos os filmes devem seguir para que ela possa assistir a ele:

1. Deve ter no mínimo duas mulheres no filme...

2. ...que conversam uma com a outra...

3. ...a respeito de algo que não seja um homem.

Essa é uma regra muito simples, não exige que as personagens falem necessariamente sobre feminismo, outras mulheres ou a condição feminina, mas de fato muitos filmes falham nela, o que vem sendo pauta de posts em vários blogs.

Posteriormente, vem sido adotado mais um critério: que essas mulheres tenham nomes (ou seja, sejam sujeitos na trama), o que dificulta ainda mais a aprovação dos filmes na Lei Bechdel.

Não é nenhum método científico, mas é bastante interessante notar como as mulheres no cinema, na maioria dos casos, são colocadas como apenas acessórios discursivos no enredo, e não tem uma vida ou uma história própria: o único assunto que as concerne é(são) o(s) homem(ens). Como o mais importante da história, o homem (ou o personagem masculino) é com que as mulheres das tramas tem de se preocupar e se encarregar.

Como escreveu Juliana Sampaio no blog da Lápis Raro, A regra de Bechdel é simples e exige apenas que o cinema “reconheça a existência de mulheres entre as pessoas do mundo [...]e que essa parcela de pessoas também possa conversar sobre outros assuntos que não seja a parcela restante. Aquilo que eu, você, minhas amigas, minha filha, e a maioria das mulheres fazem todos os dias: existir por si mesmas”.

Parece que, não seguindo esses três simples passos, o que é a regra geral, a maioria dos filmes está diminuindo a vida feminina à uma preocupação com o que realmente importa: a vida masculina, ou o(s) relacionamento(s) com um homem.

Quais filmes você assistiu recentemente que passam no teste de Bechdel? Aproveite para contribuir na lista de filmes do site sobre a lei: http://bechdeltest.com/.

amanda b.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vulnerabilidade Ideológica

Uma adolescente de 17 anos, pobre, negra, obesa, analfabeta e grávida, pela segunda vez, do próprio pai. Essa é Claireece Precious Jones (Gabourey Sidibe), personagem central do filme ‘Preciosa – Uma História de Esperança’ (Lee Daniels, Eua, 2009). Precious, como é chamada a garota, vive com a mãe (Mo’Nique), que também agride e abusa da filha, no subúrbio de Nova York dos anos 80 e as duas dependem da ajuda do governo para sobreviver.

A adolescente parece ter o mundo contra si, numa Nova York bem distante daquela onde passeia o glamouroso quarteto de Sex and The City. Diante de tanto infortúnio e falta de perspectiva, Precious se fecha e parece não reagir. Enquanto sofre todo tipo de humilhação, ela se refugia em devaneios (imagina ser magra e loira ou ter um homem branco e endinheirado aos seus pés). O momento em que é estuprada pelo pai aparece nas lembranças de Precious e, para piorar a situação, a mãe coloca a filha como culpada, chamando-a de “vagabunda” e afirmando que “ela roubou meu homem”. Subjugada pela família, consegue vislumbrar um novo caminho através da educação (expulsa da escola tradicional, ela passa a frequentar uma escola alternativa) e da amizade da professora Rain (Paula Patton), que a estimula a expressar suas emoções por meio da escrita.

O filme é impressionante e me trouxe de volta à reflexão um tema muito associado ao medo no universo feminino: o estupro. Recentemente, o programa Saia Justa (do canal a cabo GNT) discutia o que uma das apresentadoras chamou de "vulnerabilidade da vagina". É comum que pais e mães se preocupem mais com as filhas do que com os filhos. Hoje, a maior exposição de casos de estupro e pedofilia na mídia deixa muita gente de cabelo em pé. No Saia Justa, a jornalista Mônica Waldvogel pediu que cada uma falasse um pouco da sua experiência em relação a esse assunto e elas contaram que, ainda durante a puberdade, se deram conta da própria vulnerabilidade. O estupro tornou-se, então, uma possibilidade apavorante. O que passou batido durante o programa são os aspectos que vão muito além da “fragilidade” corporal da mulher. De fato, existe a questão anatômica: a vagina é vulnerável diante de um estuprador, que tem maior força física.

O crime de estupro, no entanto, ultrapassa os limites do desvio de caráter ou da psicopatia (o estuprador costuma ser chamado de “doente” logo de cara). Estamos imersos numa cultura machista perversa, que invariavelmente define o homem como sujeito e a mulher como objeto. As bases da ideologia androcêntrica colocam o sexo feminino como o ‘outro’, sempre ligado à subjetividade, à passividade, ao âmbito privado/doméstico, à natureza, à fragilidade e ao corpo. Mulher e corpo compõem, sem dúvida, uma trama que merece atenção. Na produção midiática isso fica bem claro e já faz tempo que as feministas apontam nessa direção, como descreve Graciela Natansohn, no artigo ‘Feminismo, Estudos Culturais e Comunicação’: “As mulheres observadas nos meios de comunicação, na tevê, no cinema, nas revistas, pelas primeiras feministas que repararam no poder cultural e ideológico da mídia não eram aquelas que o feminismo reivindicava. Não eram sujeito, mas objeto do olhar e do desejo masculino”. As relações de poder que se estabelecem entre os sexos é que colocam a mulher e seu corpo numa posição extremamente desfavorável e vulnerável. Que mulher nunca se sentiu agredida, invadida e (o pior) impotente diante de investidas masculinas, que vão desde uma ‘buzinada’ até o contato físico não-consentido, passando por frases das mais grosseiras e que, para muitos, se confundem com elogios?

O corpo feminino é objeto de desejo e de certo sentimento de posse masculino. Além disso, observamos que, muitas vezes, as próprias mulheres são apontadas, ainda que nas entrelinhas, como responsáveis pelos crimes sexuais. Um caso recente foi o das “pulseiras do sexo”: uma menina de 14 anos, que usava as pulseiras, foi estuprada e morta por quatro garotos. Criou-se um clima de pânico em torno dos acessórios coloridos e os veículos de comunicação não falavam em outra coisa. É absurdo, entretanto, culpar as pulseiras (e, indiretamente, a menina, por usá-las), como explica o psicanalista e doutor em educação Alessandro Marimpietri: “O que acontece nesses casos de violência sexual é que a mulher passa de vítima a algoz. A menina foi vítima de abuso por quatro pessoas, não importa as cores das pulseiras que ela estava usando. É perverso supor que aquelas pulseirinhas despertaram um espírito violentador. Eles eram estupradores, eram pessoas que violentariam. Se não fossem as pulseiras, se buscaria justificativa em uma saia curta. Então o perigo é criar um terror nessa meninada: se você, mulher, vivenciar sua sexualidade de maneira explícita e livre, pagará com o seu corpo”.

Uma visão mais ampla nos permite entender que a violência sexual passa por aspectos culturais e ideológicos, indo além das informações “palpáveis” e das conclusões superficiais proferidas pela mídia. No Brasil, a Lei 8.072, de 1990, classifica o estupro (“constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça”) como crime hediondo e, portanto, inafiançável, com pena de 6 a 10 anos de reclusão. Contudo, mulheres continuam sofrendo crimes sexuais diariamente, além de agressões, violência doméstica e discriminação.

A situação é muito pior em países como o Afeganistão. Em reportagem intitulada ‘Afeganistão, um inferno para as mulheres’ e publicada na Revista Veja (edição de 19 de maio), a jornalista Thais Oyama conta que, em 2009, o presidente Hamid Jarzai aprovou uma lei que obriga as mulheres xiitas a fazerem sexo com seu marido todas as vezes que ele exigir (sob pena de ser privada de sustento por ele). A ex-deputada Fawzia Koofi recebeu ameaças de morte e sofreu um atentado a tiros após criticar a aprovação do chamado “estupro marital” para a minoria xiita (na imagem acima, mulheres afegãs protestam contra a aprovação da lei). O perigo, então, parece estar menos na tal “vulnerabilidade da vagina” e muito mais na posição ocupada pela mulher dentro da cultura androcêntrica, patriarcal e excludente em que vivemos.

O NEIM quer ser INEIM

Do Núcleo de Estudos da Mulher, Neim/UFBA, recebi esta mensagem:
A Universidade Federal da Bahia passa por mais um momento de mudanças, agora com a criação
de novos institutos de ensino. Na página da UFBA estão disponí­veis os projetos dos novos
Institutos, para consulta pública, e o Instituto NEIM é um deles.
Convidamos todos a ler o documento e opinar.
Acesse http://www.portal.ufba.br/destaques/proposta_ineim.pdf

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma breve análise do feminismo de Virgínia Woolf em Mrs. Dalloway





Vírginia Woolf, uma das fundadoras do movimento modernista inglês, nasceu em Londres e teve contato com o mundo literário desde cedo, através de seu pai o editor Leslie Stephen. Largamente conhecida por suas obras, Woolf apresentava em seus livros questões políticas, sociais e também um pensamento feminista. Refletia sobre a situação da mulher e suas limitações diante das imposições de um mundo masculino.

Em 1925 ela lança o livro Mrs Dalloway, romance que foge à típica escrita britânica da época. O livro narra as 12 horas que antecipam uma festa proporcionada por Clarissa Dalloway ao seu marido e convidados. Ao longo dessas horas apresenta-se o passado e o presente de personagens que fizeram parte da vida de Clarissa. Virgínia Woolf trabalha, nesta narrativa, com a identidade da protagonista que ao se casar deixa para trás sonhos, expectativas e logo se apresenta como a "boa esposa" e "boa anfitriã". Sabendo um pouco sobre a vida de Woolf, podemos ver também que muitos desejos e angustias da própria autora perrmeiam as situações descritas no livro, trazendo ainda mais veracidade a representação dos problemas femininos da época.



A escritora critica em sua obra a relação patriarcal da sociedade inglesa no inicio do século XX, reconhecendo a dificuldade da mulher em conquistar seu espaço diante da dependência econômica e do pouco acesso à educação. Woolf destaca essa condição feminina em seu livro, trazendo situações em que a mulher era “o reflexo do homem” ou oprimida por este. A exemplo da própria protagonista da obra, Mrs. Dalloway, que se escondia atrás do sobrenome do marido: só descobrimos depois que seu nome era Clarissa e que antes de casar-se chamava-se Miss Parry (sobrenome do pai). Estava sempre definida pelo outro, pelo homem, “pertencendo” primeiro ao pai e depois ao marido, mas nunca se pertencendo nem sendo ela mesma, Clarissa.

Na personagem de Peter Walsh, vemos que Clarrisa Dalloway era a “pefeita dona de casa” da época, com os bons constumes, as etiquetas, preocupações e cuidados da mulher “ideal”. Sempre preocupava-se com o bem estar do outro e com a posição que aparentava. Peter percebe que as posições de Clarissa haviam sido anuladas depois do seu casamento e que ela estava sempre de acordo com o marido, como uma sombra deste.

Outra crítica é feita por Woolf, quando cria o Sir Bradshaw, personagem que julgava o grau de “normalidade” de uma pessoa a depender das tarefas que assumia em relação ao seu gênero. Ou seja, se analisava uma mulher que tinha como habito a costura, os afazeres domesticos e maternos, concluia que era uma pessoa completamente normal.

Durante a narrativa, conhecemos personagens que são marcados, de uma forma ou de outra, pelas imposições patriarcais e matrimoniais da época: a exemplo de Mrs. Dempster, que vê o casamento como um sacrifício que torna a vida muito óbvia e massante. E Mrs. Bradshaw que se submete ao marido e se apaga do seu lado.

Mrs. Dalloway contextualiza a Inglaterra do início do século XX ao trazer em cada personagens caracteristicas da época. Ela luta pela causa feminina na fala de suas personagens e mostra uma sociedade pós guerra em momento de mundança, focando as relações patriarcais e matrimoniais.

Links e fontes:
http://queirosiana.blogs.sapo.pt/17451.html
http://orgialiteraria.com/?p=1540
http://www.releituras.com/vwoolf_menu.asp
http://oritameji.blogspot.com/2010/05/virginia-woolf-e-suas-mulheres-mrs.html
http://www.anpuhsp.org.br/downloads/CD%20XVIII/pdf/PAINEL%20PDF/Liliane%20Lopes%20Muniz.pdf
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/viewFile/5474/6096

quarta-feira, 16 de junho de 2010

MGF até quando??

Antes de qualquer dado numérico ou de demarcações territoriais, é necessário definir MGF, um ritual que tem como expressão popular “circuncisão feminina”, e possui como nome mais apropriado Mutilação Genital Feminina (MGF) ou excisão. Existem basicamente três tipos:

Clitoridectomia ou sunna: consiste na remoção do prepúcio do clitóris ou mesmo na remoção completa do clitóris, é a forma mais “suave” de circuncisão;

Excisão: além de remover o prepúcio, extrai também o clitóris, os lábios menores, permitindo que os lábios maiores fiquem intactos e

Circuncisão faraônica ou Infibulação: consiste na remoção do prepúcio, do clitóris, dos lábios menores e maiores, e na sutura dos dois lados da vulva, deixando uma pequena abertura para a passagem da urina e do sangue menstrual.

Tornou-se muito comum nos diversos meios de comunicação atrelar a prática da MGF à cultura islâmica, porém há mulheres mutiladas entre cristãos, hindus e outras seitas, mas devido à grande difusão desta prática no islamismo, eles acabam por serem confundidos como genitores. Com isso, acredita-se que a origem da circuncisão não está no campo religioso, ao contrário do que muitos pensam, a religião neste caso, torna-se apenas um argumento mais poderoso para a prática e a aceitação, sem questionamentos. Pois, em alguns escritos sagrados, devido às diversas interpretações encontram-se referências para a prática da excisão.


Mais de 150 milhões de mulheres e meninas foram submetidas à mutilação genital feminina em todo o mundo. Segundo a UNICEF, cerca de três milhões de meninas se tornam vítimas dessa prática a cada ano. As justificativas para que esse procedimento seja conservado variam, além da típica intenção de manter a tradição religiosa ou de grupos étnicos, destacam-se também:

. motivos de higiene;

. questões estéticas, em relação a genitália feminina;

.pré-requisito para o matrimônio, pois homem algum aceitaria uma mulher não circuncisada;

.aumento do prazer sexual masculino;

. torna a mulher mais dócil, com a redução do seu desejo sexual, evitando uma possível relação extra-conjugal;

.ajuda na saúde da mulher, garantindo a sua fertilidade e o provimento de filhos sadios.

No entanto, dentre todas estas justificativas de ordem “higiênicas”, culturais, morais e com explicações de ordem médica, a principal função do ritual da MGF a que algumas mulheres são submetidas é o controle sobre a sua sexualidade e o corpo das mesmas (DINIZ, 1999). A permanência da circuncisão, só faz acrescentar um ponto a mais na enorme lista de fatores que, culmina na tradicional questão da submissão das mulheres durante o processo histórico. Claro, que tal visão possui um teor etnocêntrico, ocidentalizado e até com imposição de valores, porém até que ponto devemos ser tolerantes, perante a cultura do outro?


O continente Africano, é o recordista quanto ao número de mulheres circuncisadas, são 28 os países que mantêm essa prática, sem contar com alguns países asiáticos. O que mais intriga quanto à questão da excisão, é o fato de que os efeitos intencionados por ela não são alcançados, logo as justificativas dadas para a permanência dessa prática são infundadas. Não há, aqui, uma apologia a condenação das práticas culturais “sem fundamento” (de acordo com os méritos sociais), muito menos o seguimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos determinada pela ONU, mas uma apologia a saúde física principalmente, não desprezando a psicológica, porém esta fica num âmbito mais complexo.

Os problemas físicos – desenvolvimento de quadros de infecção sério após a cirurgia, além de carregarem importantes danos para a saúde reprodutiva por toda a vida, muitas das mulheres acabam morrendo (DINIZ, 1999) – estão relacionados diretamente a maneira como é feito o procedimento da mutilação: sem anestesia, sem higiene, uso de objetos não esterilizados e, muitas vezes, enferrujados e inapropriados.

Há muitas campanhas de instituições que tentam informar os perigos dessa prática, porém deve-se dá mais importância política para tal procedimento, pois a quantidade de mulheres circuncisadas é gigantesca. Sabe-se que a mudança de práticas culturais de muito tempo é extremamente difícil, por isso atitudes de conscientização, sejam governamentais ou não, devem ser tomadas o quanto antes.

Clip de um nativo da Costa do Marfim, Tiken Jah Fakoly, com sua música contra a excisão feminina, muito presente também no seu país.


Links e Fontes:

http://www.anis.org.br/serie/artigos/sa11(diniz)mutilacao.pdf

http://islamicchat.org/fgm.html

http://www.feminismo.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=698:cerca-de-3-milhoes-de-mulheres-sao-vitimas-de-mutilacao-genital-todo-ano&catid=1:direitos

http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos//Pagu/2008(30)/Venchi.pdf