sexta-feira, 20 de março de 2009

Antes de ler Sandra Harding...II

Continuo postando trechos do Dossiê Bioética e as Mulheres. Por uma bioética não sexista, anti-racista e libertária, da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos – RedeSaúde, produzido por Fátima Oliveira e Joaquim Mota.


Opiniões científicas sobre o óvulo!!!!
"A título de ilustração, vejamos um fato paradigmático que demonstra o estereótipo sexista nas biociências, o que com certeza apresenta reflexos consideráveis, que se materializam em entraves, também na bioética. Maria Teresa Citeli, no artigo “Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamento humano”, resgata o que ela considera um “bom exemplo de metáfora determinista”, que foi apresentado por Emily Martin (1996) no texto intitulado “The egg and the sperm: how science has constructed a romance based on stereotypical male-female roles” (Citeli, 2000).

E. Martin analisou textos básicos para cursos de medicina, nos quais espermatozóide e óvulo são descritos segundo as imagens ideológicas históricas de fortaleza (para os machos) e de
fragilidade (para as fêmeas). Aos futuros médicos e médicas, esses textos apresentam: “o
espermatozóide, invariavelmente ativo, ágil, com caudas rápidas e fortes, e o óvulo – passivo, à espera do espermatozóide e, depois fecundado, transportado, varrido, arrebatado, seguindo à deriva pela trompa de Falópio – quase uma bela adormecida, ‘uma noiva dormente acordada pelo beijo mágico do companheiro, que lhe insufla o espírito que a traz para a vida’”. (Schatten e Schatten, citados por Martin, 1996)

Essa imagem literária baseava-se em pesquisas segundo as quais parte do revestimento interno do óvulo, chamada “zona”, formaria uma barreira impenetrável, levando o espermatozóide a utilizar meios mecânicos (a força propulsora da cauda) e químicos (uma enzima) para superá-la.

Citeli acrescenta que Martin encontrou, em três pesquisas da década de 1980, dados que
possibilitavam abolir o imaginário sexista a respeito do óvulo; por exemplo, a realidade de que “a propulsão da cauda do espermatozóide é muito fraca e que a superfície do óvulo é preparada para pegá-lo antes que escape e que ambos contêm moléculas adesivas que facilitam o encontro”; todavia, “a única diferença relatada nos respectivos papers é que a função de atacar e penetrar, atribuída ao espermatozóide, aparece sendo desempenhada mais fracamente – provavelmente pelo fato de essa nova versão contrariar as expectativas culturais. Posteriormente, os mesmos cientistas reconceituaram o papel do óvulo que, então, passou a ser visto como mais ativo: a ‘zona’ é apresentada como uma agressiva e implacável caçadora de espermatozóides, com detalhes que associam o óvulo, agora, a uma aranha viúva negra”! (Citeli, 2000)

http://www.redesaude.org.br/Homepage/Dossi%EAs/Dossi%EA%20Bio%E9tica%20e%20as%20Mulheres.pdf

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