Não é difícil perceber o ethos masculino que envolve os aparatos científicos de última geração. Percorrendo rapidamente as campanhas publicitárias de computadores, iphones, PDA’s e GPS, fica clara a negligencia sobre o papel indispensável que tem a mulher em sua relação de consumo e conformação destes inventos pós-modernos. A elas cabe anúncios de perfumes, utilidades domésticas e utensílios decorativos, como é possível constatar nas principais revistas voltadas para o público feminino.
No site da revista Claudia, anúncios de sapatos e batons se misturam às matérias de beleza, sexo e moda.
A Apple, uma das mais famosas multinacionais do ramo de aparelhos eletrônicos e informática, foi premiada com sua propaganda “Apple Gênios”, uma das mais veiculadas na última década. A propaganda mostra personalidades representativas por mudar o mundo e “levar a raça humana ao seu desenvolvimento”. Nas áreas política e tecno-científica, apenas homens são lembrados como os formadores da história das grandes revoluções.
Essa desatenção, aliás, não data dos dias atuais. A negação da mulher na história da ciência e da informática é, conforme aponta as autoras Julia Schuartz, Lindamir Casagrande, Sonia Laszczynski e Marília Carvalho, constitutiva de uma ciência indiscutivelmente objetiva, universal, impessoal e masculina. Em Mulheres na Informática: quais foram as pioneiras?, é possível adquirir uma visão desmistificadora sobre o importante papel da mulher na construção e consolidação da tecnologia ao longo da humanidade. Algumas delas tiveram importância fundamental na criação de aparatos tecnológicos que são utilizados ainda hoje como parâmetros para o desenvolvimento das novas tecnologias.
É fato que a mulher foi, ao longo da história, destituída do direito de atuar oficialmente na ciência. A partir do século XIX, com a oficialização do campo científico, o estudo acadêmico tornou-se obrigatório para a carreira científica. Foi a partir desta reestruturação que a ciência masculinizou-se. Sem acesso à esfera pública, coube à mulher assumir a esfera privada, que envolvia essencialmente os afazeres domésticos. Desse modo, as realizações masculinas tornaram-se mais evidentes e importantes do que as femininas, conforme aponta as autoras aqui referenciadas.
Em 2006, uma matéria publicada no portal Terra* mostrava que os gamers, jogadores profissionais de jogos eletrônicos, assumiam personagens femininas porque, desse modo, adquiriam "vantagens" no jogo. “Quando se trata de uma mulher, as pessoas te dão facilidades. O lado negativo são os constantes Posso te ajudar?”, comenta Jeff Grenn, editor-chefe da Computer Gaming World, durante a entrevista. Tal como os gamers, muitas mulheres tiveram, ao longo da história, que forjar identidades para ter acesso às ciências, mostrando o quão incoerente é a percepção que se tem das mulheres, quando o assunto é tecnologia.
O papel de mulheres como Ada Byron, Grace Murray Hopper e as pioneiras do ENIAC (Eetronic Numerical Integrator and Computer) ao longo da história da informática e da tecnologia evidencia a importância destas no desenvolvimento científico, ainda que seus nomes não sejam lembrados. Então, vale dizer, nada mais de "flores para uma flor", ou outros indicativos que faz da mulher, meramente, um vaso decorativo. A elas, que venha a tal tecnologia.
* http://games.terra.com.br/interna/0,,OI1082483-EI6499,00.html
Primeira vez que venho ao seu blog e gostei muito. Sempre que eu puder, darei uma passadinha aqui. Gostei do modo como você reuniu livros, filmes e outros instrumentos que permitam a difusao do feminismo.
ResponderExcluirParabéns!
bjs