domingo, 22 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
AS ELIZAS DO BRASIL E SUAS MORTES ANUNCIADAS
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Direito das Mulheres: Brasil vai mal
Do site da ADITAL,Agência de Informação Frei Tito para América Latina (gentileza de Leticia Pereira):
Durante a XI Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal) em Brasília, informou-se sobre resultados de pesquisa de países que respeitam o ‘Consenso de Quito’, documento para adotar medidas de ação positiva para garantir a plena participação das mulheres nos cargos públicos e representação política, em formular programas integrais de educação pública não sexista, promover o respeito aos direitos humanos integrais das mulheres indocumentadas, esforçar-se para firmar, ratificar e difundir a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher e seu Protocolo Facultativo, entre outras decisões.
Equipe técnica analisou dados qualitativos e quantitativos cedidos pelos próprios países e dados oficiais do Observatório Regional de Paridade de Gênero da Cepal para detectar quais nações mais se aproximaram da execução dos seus compromissos.
Neste ranking, a Argentina ficou no topo, e foi nomeado o país latino-americano que mais respeita os direitos das mulheres. Costa Rica, Chile, Uruguai, Panamá e México também ficaram em posições elevadas por cumprirem parte das promessas. Já o Brasil ficou em penúltimo lugar por não haver avançado nas dimensões básicas fundamentais para a garantia do exercício dos direitos das mulheres. O país só ficou abaixo da Guatemala.
http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cat=8&cod=49481
sábado, 24 de julho de 2010
Homenagens da UFBA: e as mulheres?
b) Reconfirmar a denominação de Pavilhão de Aulas Professor Alceu Hiltner ao atual PAF-II.
c) PAC: Pavilhão de Aulas Reitor Heonir Rocha.
d) PAF-III: Pavilhão de Aulas Glauber Rocha.
e) Pavilhao de Aulas de São Lázaro: Pavilhão de Aulas Professor Thales de Azevedo.
f) Nomear o antigo centro de convivência, hoje refuncionalizado para abrigar o restaurante universitário, como Restaurante Universitário Manoel José de Carvalho.
g) Reconfirmar a designação de Biblioteca Universitária de Ciências e Tecnologias Professor Omar Catunda.
h) Batizar a nova biblioteca de saúde como Biblioteca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho.
Prezado Reitor Naomar e demais integrantes desta lista:
Acabo de voltar da XI Conferencia Regional da Mulher Latino Americana e do Caribe, onde integrei a delegação brasileira como uma das
representantes da sociedade civil, e junto com mais de 700 pessoas de 33 países discutimos o tema "Que Estado, para que igualdade?".
No documento final - o Consenso de Brasília - foram acordados compromissos de todos os governos para a superação das desigualdades de gênero em nossa região (www.eclac.org).
Lá também celebramos a recente criação por parte da Assembléia Geral das Nações Unidas de uma nova entidade para a igualdade de gênero e delegação de poderes às mulheres, chamada ONU Mulheres.
É portanto com desconforto e espanto que constato entre tantas homenagens, aprovadas pelo egrégio Conselho Universitário, não há sequer um nome de mulher.
Não há na história da UFBA mulheres que mereçam homenagens?
Espero ainda poder assistir o dia em que o culto à memória nesta instituição inclua homens e mulheres, que vêm construindo a UFBA e
levando ao mundo seu valor social e cultural, sem discriminação.
Estela Aquino
Coordenadora do MUSA
Instituto de Saúde Coletiva
MUSA-Programa em Gênero e Saúde
I SEMINÁRIO INTERNACIONAL: POLÌTICAS DE ENFRENTAMENTO Á VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES XVI SIMPÓSIO BAIANO DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER
Violência de Gênero: suas várias faces
08 a 11 de novembro de 2010
Salvador - Bahia
O Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) Sobre Mulher e Relações de Gênero é um evento que faz parte das atividade anuais do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM/UFBA – e este ano chega a sua décima sexta edição com o tema Violência de Gênero: suas várias faces. Este ano, junto ao simpósio, teremos também I Seminário Internacional: Políticas de Enfrentamento à Violência de Gênero Contra As Mulheres também realizado pelo NEIM, em parceria com OBSERVE-Observatório de Monitoramento da Aplicação da Lei Maria da Penha.
O objetivo dos encontros é debater as diferentes manifestações da violência de gênero, como também iniciativas e experiências voltadas para coibir a violência de gênero, abrangendo tanto o plano teórico como práticas desenvolvidas no âmbito acadêmico, das políticas públicas, seu monitoramento e nos demais processos educativos, organizacionais e políticos em curso na nossa sociedade. Buscamos dar visibilidade às diversas formas de agressão possíveis, não apenas os abusos físicos, mas também a violência moral e psicológica, os abusos patrimoniais, a violência ocorrida dentro das relações familiares ou institucionais.
Enquanto o simpósio será um espaço mais voltado para pesquisas e discussões acadêmicas, o seminário internacional focará em reflexões e construção de parcerias, nacionais e internacionais, voltadas para o monitoramento das políticas de enfrentamento à violência de gênero contra a mulher, contando inclusive com representantes de observatórios de violência existentes na Ásia, Europa e América Latina.
As propostas de trabalho deverão se voltar para o debate acerca das diferentes manifestações de violência de gênero contra as mulheres e iniciativas e experiências voltadas para coibir a violência de gênero, abrangendo tanto o plano teórico como práticas desenvolvidas no âmbito acadêmico, das políticas públicas, seu monitoramento e nos demais processos educativos, organizacionais e políticos em curso na nossa sociedade. Em especial, com o I Seminário Internacional: Políticas de Enfrentamento á Violência de Gênero contra as Mulheres, pretende-se abrir um espaço para reflexões e a construção de parcerias, nacionais e internacionais, voltadas para o monitoramento dessas políticas.
Inscrições de trabalhos até dia 15 de agosto.
Cartas de aceite enviadas até 03 de setembro.
Informações: neim@ufba.br
terça-feira, 13 de julho de 2010
Flor do Deserto
A maioria dos filmes biográficos - principalmente os norte-americanos - caracterizam-se por contar a história de uma pessoa que ou revolucionou o mundo de alguma forma, ou teve uma infância complicada, mas que, no futuro, conseguiu dar uma volta por cima, trazendo uma "lição de vida" para todos. Dentre os filmes desse gênero podemos citar: O Martírio de Joana D'Arc; Piaf - Um Hino ao Amor; Coco Antes de Chanel; Frida, entre outros.
No dia 25 de junho, estreou mais um filme biográfico nas telinhas do cinema. O longa chama-se Flor do Deserto, roteirizado e dirigido por Sherry Homan, e conta a história de Waris Dirie, uma modelo de fama internacional que nasceu e passou a infância no deserto da Somália. Baseado no best-seller homônimo escrito pela própria modelo, o filme, no geral, é muito interessante e surpreendente.
A história não é contada de forma linear. No começo do filme, temos um breve acesso à infância de Waris, em pleno deserto da Somália. Lá, nos é apresentada as condições de vida da protagonista e sua família: eram nômades, trabalhavam com o pastoreio, moravam em uma barraca sem nenhuma estrutura, a comida era escassa e tinha que ser dividida entre todos os irmãos. Logo depois, o cenário muda completamente e já estamos em Londres, cidade moderna e movimentada. Ainda não sabemos como Waris foi parar lá, mas é perceptível que ela não está adaptada ao local. Ela vive nas ruas, cata lixo para sobreviver e ainda não sabe falar inglês fluentemente.
Um dia, ao entrar em uma loja de conveniência, a protagonista acaba conhecendo Marylin, uma aspirante a dançarina que vive frustrada por não conseguir a aprovação de nenhuma escola de dança. Depois de insistir muito para passar uma noite com a moça e não dormir na rua, Waris consegue conquistar, aos poucos, a amizade de Marylin, que passa a incentivar a somali a mudar de vida. A partir disso, a vida de Waris começa a tomar outros rumos.
Cena do filme Flor do Deserto
Waris passa a trabalhar no McDonald's, local onde sua beleza é notada pela primeira vez pelo famoso fotógrafo Terry Donaldson, que propõe que a moça realize um ensaio fotográfico com ele. Depois de muito tempo, finalmente Waris decide aceitar o convite e, devido ao sucesso proporcionado pelas fotos, começaram a surgir várias oportunidades de trabalho como modelo fotográfica e, posteriormente, como modelo de passarela.
Com o passar do tempo, Waris fica conhecida mundialmente, tendo o seu rosto estampado em outdoors e capas de revistas de moda. O dia em que Terry Donaldson descobriu a modelo passou a ser conhecido como "o dia que mudou a vida de Waris Dirie". Porém, o mundo não sabia que, na verdade, o dia que mudou a vida da modelo aconteceu na Somália, quando ela tinha apenas cinco anos.
Waris sofreu uma mutilação genital feminina do tipo infibular, em que ocorre a remoção do clitóris, do prepúcio, dos lábios maiores e menores, deixando apenas uma pequena passagem da urina e do sangue menstrual. O ritual foi feito de forma inadequada, sem qualquer tipo de higiene, causando uma infecção na região vaginal que só cessou quando a modelo fez uma cirurgia depois de adulta.
Ao longo do filme, aparecem diversas cenas que provocam uma reflexão a respeito dessa prática. Uma delas é o diálogo que ocorre entre a modela e Marylin, sua amiga:
Waris
Uma mulher de respeito não faria isso.
Marylin
Uma mulher pode fazer o que quiser e ser respeitada.
Waris
As mulheres cortadas que são boas.
Marylin
Cortadas como?
(Waris levanta o vestido)
Marylin
Quem... quem fez isso com você?
Waris
Não fizeram isso com você? (chorando)
Na cena final do filme, Waris, que havia assumido publicamente um dos seus maiores segredos, realiza um discurso público em um encontro da ONU, onde critica essa prática e propõe uma discussão sobre "o que é ser mulher". Parte do discurso pode ser conferido abaixo:
quinta-feira, 24 de junho de 2010
A Lei de Bechdel
Alison Bechdel é uma cartunista americana, autora dos quadrinhos Dykes To Watch Out For, que começou no início dos anos 80 e representa uma das primeiras aparições importantes da cultura lésbica nas mídias massivas.
Em DTWOF, Bechdel escreve, num dos diálogos, o que vem a ser conhecido hoje como a Lei Bechdel. Nessa tirinha, uma das personagens descreve a “regra” que todos os filmes devem seguir para que ela possa assistir a ele:
1. Deve ter no mínimo duas mulheres no filme...
2. ...que conversam uma com a outra...
3. ...a respeito de algo que não seja um homem.
Essa é uma regra muito simples, não exige que as personagens falem necessariamente sobre feminismo, outras mulheres ou a condição feminina, mas de fato muitos filmes falham nela, o que vem sendo pauta de posts em vários blogs.
Posteriormente, vem sido adotado mais um critério: que essas mulheres tenham nomes (ou seja, sejam sujeitos na trama), o que dificulta ainda mais a aprovação dos filmes na Lei Bechdel.
Não é nenhum método científico, mas é bastante interessante notar como as mulheres no cinema, na maioria dos casos, são colocadas como apenas acessórios discursivos no enredo, e não tem uma vida ou uma história própria: o único assunto que as concerne é(são) o(s) homem(ens). Como o mais importante da história, o homem (ou o personagem masculino) é com que as mulheres das tramas tem de se preocupar e se encarregar.
Como escreveu Juliana Sampaio no blog da Lápis Raro, A regra de Bechdel é simples e exige apenas que o cinema “reconheça a existência de mulheres entre as pessoas do mundo [...]e que essa parcela de pessoas também possa conversar sobre outros assuntos que não seja a parcela restante. Aquilo que eu, você, minhas amigas, minha filha, e a maioria das mulheres fazem todos os dias: existir por si mesmas”.
Parece que, não seguindo esses três simples passos, o que é a regra geral, a maioria dos filmes está diminuindo a vida feminina à uma preocupação com o que realmente importa: a vida masculina, ou o(s) relacionamento(s) com um homem.
Quais filmes você assistiu recentemente que passam no teste de Bechdel? Aproveite para contribuir na lista de filmes do site sobre a lei: http://bechdeltest.com/.amanda b.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Vulnerabilidade Ideológica
Uma adolescente de 17 anos, pobre, negra, obesa, analfabeta e grávida, pela segunda vez, do próprio pai. Essa é Claireece Precious Jones (Gabourey Sidibe), personagem central do filme ‘Preciosa – Uma História de Esperança’ (Lee Daniels, Eua, 2009). Precious, como é chamada a garota, vive com a mãe (Mo’Nique), que também agride e abusa da filha, no subúrbio de Nova York dos anos 80 e as duas dependem da ajuda do governo para sobreviver.
A adolescente parece ter o mundo contra si, numa Nova York bem distante daquela onde passeia o glamouroso quarteto de Sex and The City. Diante de tanto infortúnio e falta de perspectiva, Precious se fecha e parece não reagir. Enquanto sofre todo tipo de humilhação, ela se refugia em devaneios (imagina ser magra e loira ou ter um homem branco e endinheirado aos seus pés). O momento em que é estuprada pelo pai aparece nas lembranças de Precious e, para piorar a situação, a mãe coloca a filha como culpada, chamando-a de “vagabunda” e afirmando que “ela roubou meu homem”. Subjugada pela família, consegue vislumbrar um novo caminho através da educação (expulsa da escola tradicional, ela passa a frequentar uma escola alternativa) e da amizade da professora Rain (Paula Patton), que a estimula a expressar suas emoções por meio da escrita.
O filme é impressionante e me trouxe de volta à reflexão um tema muito associado ao medo no universo feminino: o estupro. Recentemente, o programa Saia Justa (do canal a cabo GNT) discutia o que uma das apresentadoras chamou de "vulnerabilidade da vagina". É comum que pais e mães se preocupem mais com as filhas do que com os filhos. Hoje, a maior exposição de casos de estupro e pedofilia na mídia deixa muita gente de cabelo em pé. No Saia Justa, a jornalista Mônica Waldvogel pediu que cada uma falasse um pouco da sua experiência em relação a esse assunto e elas contaram que, ainda durante a puberdade, se deram conta da própria vulnerabilidade. O estupro tornou-se, então, uma possibilidade apavorante. O que passou batido durante o programa são os aspectos que vão muito além da “fragilidade” corporal da mulher. De fato, existe a questão anatômica: a vagina é vulnerável diante de um estuprador, que tem maior força física.
O crime de estupro, no entanto, ultrapassa os limites do desvio de caráter ou da psicopatia (o estuprador costuma ser chamado de “doente” logo de cara). Estamos imersos numa cultura machista perversa, que invariavelmente define o homem como sujeito e a mulher como objeto. As bases da ideologia androcêntrica colocam o sexo feminino como o ‘outro’, sempre ligado à subjetividade, à passividade, ao âmbito privado/doméstico, à natureza, à fragilidade e ao corpo. Mulher e corpo compõem, sem dúvida, uma trama que merece atenção. Na produção midiática isso fica bem claro e já faz tempo que as feministas apontam nessa direção, como descreve Graciela Natansohn, no artigo ‘Feminismo, Estudos Culturais e Comunicação’: “As mulheres observadas nos meios de comunicação, na tevê, no cinema, nas revistas, pelas primeiras feministas que repararam no poder cultural e ideológico da mídia não eram aquelas que o feminismo reivindicava. Não eram sujeito, mas objeto do olhar e do desejo masculino”. As relações de poder que se estabelecem entre os sexos é que colocam a mulher e seu corpo numa posição extremamente desfavorável e vulnerável. Que mulher nunca se sentiu agredida, invadida e (o pior) impotente diante de investidas masculinas, que vão desde uma ‘buzinada’ até o contato físico não-consentido, passando por frases das mais grosseiras e que, para muitos, se confundem com elogios?
O corpo feminino é objeto de desejo e de certo sentimento de posse masculino. Além disso, observamos que, muitas vezes, as próprias mulheres são apontadas, ainda que nas entrelinhas, como responsáveis pelos crimes sexuais. Um caso recente foi o das “pulseiras do sexo”: uma menina de 14 anos, que usava as pulseiras, foi estuprada e morta por quatro garotos. Criou-se um clima de pânico em torno dos acessórios coloridos e os veículos de comunicação não falavam em outra coisa. É absurdo, entretanto, culpar as pulseiras (e, indiretamente, a menina, por usá-las), como explica o psicanalista e doutor em educação Alessandro Marimpietri: “O que acontece nesses casos de violência sexual é que a mulher passa de vítima a algoz. A menina foi vítima de abuso por quatro pessoas, não importa as cores das pulseiras que ela estava usando. É perverso supor que aquelas pulseirinhas despertaram um espírito violentador. Eles eram estupradores, eram pessoas que violentariam. Se não fossem as pulseiras, se buscaria justificativa em uma saia curta. Então o perigo é criar um terror nessa meninada: se você, mulher, vivenciar sua sexualidade de maneira explícita e livre, pagará com o seu corpo”.
Uma visão mais ampla nos permite entender que a violência sexual passa por aspectos culturais e ideológicos, indo além das informações “palpáveis” e das conclusões superficiais proferidas pela mídia. No Brasil, a Lei 8.072, de 1990, classifica o estupro (“constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça”) como crime hediondo e, portanto, inafiançável, com pena de 6 a 10 anos de reclusão. Contudo, mulheres continuam sofrendo crimes sexuais diariamente, além de agressões, violência doméstica e discriminação.
A situação é muito pior em países como o Afeganistão. Em reportagem intitulada ‘Afeganistão, um inferno para as mulheres’ e publicada na Revista Veja (edição de 19 de maio), a jornalista Thais Oyama conta que, em 2009, o presidente Hamid Jarzai aprovou uma lei que obriga as mulheres xiitas a fazerem sexo com seu marido todas as vezes que ele exigir (sob pena de ser privada de sustento por ele). A ex-deputada Fawzia Koofi recebeu ameaças de morte e sofreu um atentado a tiros após criticar a aprovação do chamado “estupro marital” para a minoria xiita (na imagem acima, mulheres afegãs protestam contra a aprovação da lei). O perigo, então, parece estar menos na tal “vulnerabilidade da vagina” e muito mais na posição ocupada pela mulher dentro da cultura androcêntrica, patriarcal e excludente em que vivemos.
O NEIM quer ser INEIM
A Universidade Federal da Bahia passa por mais um momento de mudanças, agora com a criação
de novos institutos de ensino. Na página da UFBA estão disponíveis os projetos dos novos
Institutos, para consulta pública, e o Instituto NEIM é um deles.
Convidamos todos a ler o documento e opinar.
Acesse http://www.portal.ufba.br/destaques/proposta_ineim.pdf
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Uma breve análise do feminismo de Virgínia Woolf em Mrs. Dalloway
Vírginia Woolf, uma das fundadoras do movimento modernista inglês, nasceu em Londres e teve contato com o mundo literário desde cedo, através de seu pai o editor Leslie Stephen. Largamente conhecida por suas obras, Woolf apresentava em seus livros questões políticas, sociais e também um pensamento feminista. Refletia sobre a situação da mulher e suas limitações diante das imposições de um mundo masculino.
Em 1925 ela lança o livro Mrs Dalloway, romance que foge à típica escrita britânica da época. O livro narra as 12 horas que antecipam uma festa proporcionada por Clarissa Dalloway ao seu marido e convidados. Ao longo dessas horas apresenta-se o passado e o presente de personagens que fizeram parte da vida de Clarissa. Virgínia Woolf trabalha, nesta narrativa, com a identidade da protagonista que ao se casar deixa para trás sonhos, expectativas e logo se apresenta como a "boa esposa" e "boa anfitriã". Sabendo um pouco sobre a vida de Woolf, podemos ver também que muitos desejos e angustias da própria autora perrmeiam as situações descritas no livro, trazendo ainda mais veracidade a representação dos problemas femininos da época.
A escritora critica em sua obra a relação patriarcal da sociedade inglesa no inicio do século XX, reconhecendo a dificuldade da mulher em conquistar seu espaço diante da dependência econômica e do pouco acesso à educação. Woolf destaca essa condição feminina em seu livro, trazendo situações em que a mulher era “o reflexo do homem” ou oprimida por este. A exemplo da própria protagonista da obra, Mrs. Dalloway, que se escondia atrás do sobrenome do marido: só descobrimos depois que seu nome era Clarissa e que antes de casar-se chamava-se Miss Parry (sobrenome do pai). Estava sempre definida pelo outro, pelo homem, “pertencendo” primeiro ao pai e depois ao marido, mas nunca se pertencendo nem sendo ela mesma, Clarissa.
Na personagem de Peter Walsh, vemos que Clarrisa Dalloway era a “pefeita dona de casa” da época, com os bons constumes, as etiquetas, preocupações e cuidados da mulher “ideal”. Sempre preocupava-se com o bem estar do outro e com a posição que aparentava. Peter percebe que as posições de Clarissa haviam sido anuladas depois do seu casamento e que ela estava sempre de acordo com o marido, como uma sombra deste.
Outra crítica é feita por Woolf, quando cria o Sir Bradshaw, personagem que julgava o grau de “normalidade” de uma pessoa a depender das tarefas que assumia em relação ao seu gênero. Ou seja, se analisava uma mulher que tinha como habito a costura, os afazeres domesticos e maternos, concluia que era uma pessoa completamente normal.
Durante a narrativa, conhecemos personagens que são marcados, de uma forma ou de outra, pelas imposições patriarcais e matrimoniais da época: a exemplo de Mrs. Dempster, que vê o casamento como um sacrifício que torna a vida muito óbvia e massante. E Mrs. Bradshaw que se submete ao marido e se apaga do seu lado.
Mrs. Dalloway contextualiza a Inglaterra do início do século XX ao trazer em cada personagens caracteristicas da época. Ela luta pela causa feminina na fala de suas personagens e mostra uma sociedade pós guerra em momento de mundança, focando as relações patriarcais e matrimoniais.
Links e fontes:
http://queirosiana.blogs.sapo.pt/17451.html
http://orgialiteraria.com/?p=1540
http://www.releituras.com/vwoolf_menu.asp
http://oritameji.blogspot.com/2010/05/virginia-woolf-e-suas-mulheres-mrs.html
http://www.anpuhsp.org.br/downloads/CD%20XVIII/pdf/PAINEL%20PDF/Liliane%20Lopes%20Muniz.pdf
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/viewFile/5474/6096
quarta-feira, 16 de junho de 2010
MGF até quando??
Antes de qualquer dado numérico ou de demarcações territoriais, é necessário definir MGF, um ritual que tem como expressão popular “circuncisão feminina”, e possui como nome mais apropriado Mutilação Genital Feminina (MGF) ou excisão. Existem basicamente três tipos:
Clitoridectomia ou sunna: consiste na remoção do prepúcio do clitóris ou mesmo na remoção completa do clitóris, é a forma mais “suave” de circuncisão;
Excisão: além de remover o prepúcio, extrai também o clitóris, os lábios menores, permitindo que os lábios maiores fiquem intactos e
Circuncisão faraônica ou Infibulação: consiste na remoção do prepúcio, do clitóris, dos lábios menores e maiores, e na sutura dos dois lados da vulva, deixando uma pequena abertura para a passagem da urina e do sangue menstrual.
Tornou-se muito comum nos diversos meios de comunicação atrelar a prática da MGF à cultura islâmica, porém há mulheres mutiladas entre cristãos, hindus e outras seitas, mas devido à grande difusão desta prática no islamismo, eles acabam por serem confundidos como genitores. Com isso, acredita-se que a origem da circuncisão não está no campo religioso, ao contrário do que muitos pensam, a religião neste caso, torna-se apenas um argumento mais poderoso para a prática e a aceitação, sem questionamentos. Pois, em alguns escritos sagrados, devido às diversas interpretações encontram-se referências para a prática da excisão.
Mais de 150 milhões de mulheres e meninas foram submetidas à mutilação genital feminina em todo o mundo. Segundo a UNICEF, cerca de três milhões de meninas se tornam vítimas dessa prática a cada ano. As justificativas para que esse procedimento seja conservado variam, além da típica intenção de manter a tradição religiosa ou de grupos étnicos, destacam-se também:
. motivos de higiene;
. questões estéticas, em relação a genitália feminina;
.pré-requisito para o matrimônio, pois homem algum aceitaria uma mulher não circuncisada;
.aumento do prazer sexual masculino;
. torna a mulher mais dócil, com a redução do seu desejo sexual, evitando uma possível relação extra-conjugal;
.ajuda na saúde da mulher, garantindo a sua fertilidade e o provimento de filhos sadios.
No entanto, dentre todas estas justificativas de ordem “higiênicas”, culturais, morais e com explicações de ordem médica, a principal função do ritual da MGF a que algumas mulheres são submetidas é o controle sobre a sua sexualidade e o corpo das mesmas (DINIZ, 1999). A permanência da circuncisão, só faz acrescentar um ponto a mais na enorme lista de fatores que, culmina na tradicional questão da submissão das mulheres durante o processo histórico. Claro, que tal visão possui um teor etnocêntrico, ocidentalizado e até com imposição de valores, porém até que ponto devemos ser tolerantes, perante a cultura do outro?
O continente Africano, é o recordista quanto ao número de mulheres circuncisadas, são 28 os países que mantêm essa prática, sem contar com alguns países asiáticos. O que mais intriga quanto à questão da excisão, é o fato de que os efeitos intencionados por ela não são alcançados, logo as justificativas dadas para a permanência dessa prática são infundadas. Não há, aqui, uma apologia a condenação das práticas culturais “sem fundamento” (de acordo com os méritos sociais), muito menos o seguimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos determinada pela ONU, mas uma apologia a saúde física principalmente, não desprezando a psicológica, porém esta fica num âmbito mais complexo.
Os problemas físicos – desenvolvimento de quadros de infecção sério após a cirurgia, além de carregarem importantes danos para a saúde reprodutiva por toda a vida, muitas das mulheres acabam morrendo (DINIZ, 1999) – estão relacionados diretamente a maneira como é feito o procedimento da mutilação: sem anestesia, sem higiene, uso de objetos não esterilizados e, muitas vezes, enferrujados e inapropriados.
Há muitas campanhas de instituições que tentam informar os perigos dessa prática, porém deve-se dá mais importância política para tal procedimento, pois a quantidade de mulheres circuncisadas é gigantesca. Sabe-se que a mudança de práticas culturais de muito tempo é extremamente difícil, por isso atitudes de conscientização, sejam governamentais ou não, devem ser tomadas o quanto antes.
Clip de um nativo da Costa do Marfim, Tiken Jah Fakoly, com sua música contra a excisão feminina, muito presente também no seu país.
Links e Fontes:
http://www.anis.org.br/serie/artigos/sa11(diniz)mutilacao.pdf
http://islamicchat.org/fgm.html
http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos//Pagu/2008(30)/Venchi.pdf